299 dias sem Internet
Rui Cruz
Para quem não me conhece, sou Rui Cruz, director de informação do órgão de comunicação social Tugaleaks, entusiasta da segurança informática, blogger há mais de dez anos e defensor da liberdade de informação.
São estas singelas características que em 2012 me colocaram num primeiro processo judicial do qual fui ilibado. E tudo isto voltou a acontecer novamente em 2013. Adivinhem o que aconteceu? Foi também arquivado.
Já em 2015 (depois da operação C4R3T0S) fui arguido num processo proveniente de uma queixa da APAV e… esperem, a história não muda: foi arquivado.
Poderá um matemático dizer que a estatística aponta para que tudo o que me é “atirado”, seja arquivado. Mas porque é que me atiram com tanta coisa? Porque escrevo coisas incómodas. Ou isso ou tive mesmo sorte em ver tudo arquivado…
Mas o processo que mais “doeu” foi aquele em que fui detido a 26 de Fevereiro. Recomendo antes da leitura deste artigo, o artigo escrito por mim – mas publicado por interposta pessoa – no Tugaleaks.
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Devido à detenção mediática fui despedido do local onde trabalhava há 8 anos. Fui proibido de aceder à Internet. Fui impedido de entregar o meu IRS. Fui humilhado psicologicamente por aqueles que sempre me quiseram humilhar (pessoas de órgãos de polícia criminal que chegam a dizer em processos, como testemunhas, aquelas testemunhas que não deve mentir, que eu sou “um criminoso de carreira”).
Nestes 10 meses (deviam ser 8, mas adiante) li muito. Livros de direito, manuais técnicos de segurança informática e tentei, desligado da Internet, estar presente na Internet ao saber mais informações sobre ela. Em suma, posso estimar que estou muito mais preparado para continuar com o Tugaleaks e as minhas outras coisas do que há 10 meses.
Há 10 meses que o Tribunal da Relação de Lisboa tem para lá, algures num canto frio, o meu processo para decidir sobre a medida de coação. Medida de coação essa que, devia expirar passado 8 meses e que demorou à Exma Dra Juiza de Instrução quase dois meses para se pronunciar pela extinção da medida. Tudo isto são prazos inadmissíveis. Eu não gosto de me comparar com ninguém, mas se eu fosse um “Sócrates” com atenção mediática nada disto acontecia. Mas não sou.
Alias não sou mas tentei. Tenho feito ao longo dos tempos vários contactos com os media para falarem deste caso, mas sem sucesso. Baterem em putos para obterem passwords de telemóveis, ameaçarem pessoas para falarem mal de mim ou dizerem que fiz coisas que não fiz, e coisas como estas são coisas deprimentes. Mas são a verdade.
Neste momento vou voltar à actividade que tinha, com os meus sites e os meus projectos. Mas a mossa que ficou, a angústia, a humilhação que me foi feita e tantas outras coisas não serão esquecidas, e serão devidamente denunciadas em detalhe no seu tempo devido. Não ponho de parte uma parceria com algum espaço para um workshop de segurança informática (defensiva) por isso se conhecerem algum espaço avisem-me.
A minha vida teve danos irreparáveis (não só morais, mas também psicológicos e patrimoniais). Mas irá certamente voltar tudo a correr bem. Porque quem corre por gosto, não se cansa.
[ads]Não tenho dúvidas de que poderei ser acusado. Não por haver factos contra mim, mas por haver perseguição contra mim. Tenho é certeza de que irei derrotar qualquer acusação que venha a ser proferida, porque a verdade e a inocência estão do meu lado.
Este blog vai ter actualizações regulares. Por isso, se queres saber os próximos episódios, subscreve ao feed de notícias.
Obrigado a todos os que me apoiam. E um agradecimento especial à Federação Europeia de Jornalistas e ao escritório de advogados Jaime Roriz, que tudo fizeram para esta situação grave não se tornar ainda mais grave.
R.
PS: falei sempre aqui por mim, mas os outros arguidos no processo também já podem aceder à Internet