O fracasso do Censos 2011
Rui Cruz
Os Censos realizam-se de 10 em 10 anos, são obrigatórios (Lei 22/2008 de 13 de Maio) e permitem obter uma melhor noção em Portugal de quem é quem e como é. Isto porque provavelmente a Segurança Social não os consegue contar ou o Governo não aprendeu a somar as contas das pessoas que fazem Bilhetes de Identidade e o Cartão de Cidadão versus as pessoas que entram nos cemitérios, e ver quantos ainda estão por cá.
Neste texto falo problemas na linha telefónica, no site e na informação falsa colocada no RIPE.net.
O site
O site censos2011.ine.pt esteve offline até perto da uma da manhã conforme anunciei no meu Twitter. O mais engraçado é que no dia 20 o site estava online. Hoje, pelas 9h o site encontra-se online mas lento. É de notar que houve há uns meses um problema grave em que no dia de Eleições para a Presidência da República o estado teve problemas informáticos semelhantes. Se o Governo veio a público dizer que as pessoas responsáveis já tinham sido “despachadas”, penso que nem para despachar pessoas o Governo consegue fazer um bom trabalho. Estará talvez na hora do segundo round?
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Uma das minhas preocupações é ter um site acessível. O facto de o ter acessível para mim, é simplesmente ter a possibilidade de navegar no site sem qualquer problema, mas que isso se estenda a qualquer tipo de deficiente que tente navegar no site: seja visual, físico, cognitivo, etc.
O Governo decidiu colocar o Símbolo da Acessibilidade na Web e ao lado o ícone do nível AA do WCAG 1.0. De notar que o WCAG 2.0, as normas mais recentes de acessibilidade, são recomendadas desde 2008. Em 2011, o INE decidiu usar algo que está obsoleto há três anos. E mesmo assim, usando um validados chamado de Examinator, encontramos erros de validação porque a página remete para um “302 found” em vez de remeter para a página que devia. Ou seja, mais um showoff do nosso Governo que tanto diz que gosta de ajudar os mais necessitados. No entanto, os problemas com ajudas técnicas continuam. Querem ajudar? Assinem a petição.
O telefone
Ontem dia 20 tentei contactar telefonicamente os Censos 2011 pelo 800 22 20 11. Escolhi uma opção e fui encaminhado para um operador. Esperei mais de meia hora a ouvir música. Quando fui ver o horário de funcionamento descobri que era só nos dias úteis. Ou seja, acho que andei a pagar uma chamada grátis desnecessariamente durante meia hora. Não entenderam? Eu explico: a chamada é grátis, não havia um aviso do horário de funcionamento e por isso, mais tarde, eu como contribuinte irei de certa forma pagar esta chamada e a incompetência do aprovisionamento de uma linha telefónica. Podia estar à espera uma hora, se calhar ia dar ao mesmo.
Hoje tentei contactar várias vezes desde as 9h da manhã, o número não se encontra disponível nem da rede fixa nem da rede móvel.
A falsa informação no RIPE.net
RIPE é a entidade Internacional responsável pela atribuição e pelo “label” dos IPs em Portugal, ou seja, é lá que obtemos a informação de quem é quem na Internet ou a quem é que um determinado IP ou uma determinada range de IPs pertence. Neste caso como sou geek, decidi ir ao RIPE pesquisar os contactos oficiais. Primeiro, fiquei realmente espantado pelo INE ter o seu próprio netblock, ou seja, um bloco de IPs só para eles. E depois, fiquei horrorizado: o contacto telefónico estava inválido. Relembro que nos domínios de Internet colocar falsas informações em domínios de Internet significa que podemos perder o domínio se o registar for muito rígido – ou as informações muito graves. Será que o INE poderá perder o seu range de IPs por isto? Claro que não. É Governo, e o Governo está imune a tudo e todos!
O facto é que continuo sem poder tirar dúvidas sobre o Censos, não é claro se o site é realmente acessível após o login porque a minha senha não funciona (daí ter que tirar dúvidas) e que uma entidade Governamental colocou falsa informação – seja por erro ou não – nos seus IPs. Contra factos, não há argumentos. Já passaram 10 horas e meia do dia 21, o dia oficial do lançamento de algo que me parece ter sido um fracasso, tal como as Eleições. E agora a quem vamos atribuir as culpas?
Rui