Falta de acessibilidade no EuroMilhões
Rui Cruz
Vocês devem estar a perguntar algo como “Rui, mas estás a gozar comigo?”, e, para os que perguntam, respondo que não estou. Aconteceu há uns dias quando vi a Mariza Cruz a anunciar os números do EuroMilhões.
Foi depois do número 38 (ups, era 28) que percebi o esquema todo. A senhora não tem voz!
Caros gestores em Portugal do EuroMilhões:
Agradeço que não façam de portugal um país mais inútil do que já é. Agradeço que não coloquem uma mulher à frente de um televisor num programa de tamanha importância, com o intuito de não ter voz para dizer os números (ou falta dela) e ter um corpo de sonho (sim, sonho de um dia algumas pessoas o poderem ter). A televisão já não mostra a realidade há muitos anos, mostra o markting, de cara suja e falsa. Mas agora, com o EuroMilhões, passamos essa meta e chegamos a uma nova: o poder.
O poder, caros visitantes, é o poder não só de fazer dos portugueses cegos, cegos esses que em vez de olharem para os números, olham para a mulher. É também o poder que uma pessoa de topo, ou pelo menos considerada por mim de topo, estar à frente de um papel importante, não se dar ao luxo de o fazer o seu trabalho com qualidade. Cara Santa Casa, cara TVI, vejam as gravações, e irei ter razão no que digo.
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Este problema descrito nos parágrafos anteriores, levantou outras questões, estas, de acessibilidade. Vou dar-vos aqui três casos de inacessibilidade do programa:
- Pessoa surda: não ouve o que a Mariza diz, mas vê os números. No entanto, e não digam o contrário, o corpo da senhora estimula a mente para olhar para lá e não para os números, que na minha opinião bem podiam estar maiores. Ponham lá o Paulino Coelho, que tem uma voz bastante boa tanto para rádio como para televisão (e é gordo, portanto vamos esquecer o que acabei de dizer, que a discriminação aqui fala mais alto). E se acham que isto pode ser de certa forma falso, vejamos outros casos…;
- Pessoa cega: não vê o ecrã, nem ouve os números porque a Mariza os diz mal, e a música muitas vezes está ao mesmo nível da voz da apresentadora (o que é um erro grave em qualquer gravação em que o objectivo seja ouvir uma pessoa);
- Pessoa surda-cega: não vê o ecrã, não ouve a Mariza. Tenta aceder ao site www.jogossantacasa.pt. O site está inacessível. Mesmo com uma linha braille (links de algumas marcas representadas em Portugal: Ataraxia, ElectroSertec, Tiflotecnia) não consegue aceder, pois nem login sabe fazer. Como pessoa surda-cega, pode ter também dificuldades em ir a um quiosque e registar o seu EuroMilhões, por dificuldades de comunicação;
- Ainda sobre o ponto 2, a não acessibilidade do site deles “oferece-lhes” outra barreira social.
Não entendo como é que há tanto dinheiro envolvido, e não o conseguem gastar decentemente em colocar uma coita simples acessível a todos. Alias, salvo erro o site é de 2006, e por isso o que não entendo é como é que contrataram uma equipe de webdesign recente e supostamente inovaora, para fazer aquele trabalho que ali se apresenta.
Este post será mencionado num e-mail à Santa Casa, esperando que algum responsável possa emitir uma resposta directamente neste blog, ou uma autorização para a publicação.
Não podemos deixar que a inconsciência social de uns perturbem as dificuldades de outros.
Rui Cruz