Em defesa de César Nogueira e contra as atitudes salazaristas da GNR

Rui Cruz
Criado a

Normalmente não me encontram a fazer comentários políticos ou de sociedade de forma aberta, mas é meu entender que a GNR passou um limite que não devia passar.

Há primeiro que entender o contexto da GNR “antiga” e o contexto da GNR actual para tecer as devidas comparações, para chegarmos à conclusão de que recuavam no tempo.

A 25 de Abril de 1914 o Presidente do Conselho decidiu refugiar-se no quartel do Carmo que era da GNR. Foi lá que as últimas horas do poder fascista caíram sob a revolução do Movimento dos Capitães.
Mas a história, resumidamente contada aqui, ainda pode vir ser vista por olhos anteriores ao 25 de Abril. Exactamente 40 dias antes. Quando o Golpe das Caldas da Rainha falhou, e o Regimento de Infantaria 5 voltou ao Quartel, quem é que os foi cercar? Foram, entre outras pessoas, militares da GNR.

 

Recebe novos posts por e-mail

É preciso, portanto, conhecer a história.

 

Se a primeira história parece mera coincidência, há outra história que pode vir a servir para a minha análise.
O antigo Comandante Geral da GNR, Newton Parreira, teve também um papel fundamental na censura da imprensa. E se calhar esta história é menos conhecida e vai espantar alguns.
A GNR tem por hábito fazer um resumo dos jornais escritos e do que se fala da GNR. E havia um jornal, o hoje extinto Jornal O Crime, na altura dirigido pelo meu amigo e camarada Carlos Tomás.
Ora, o Newton Parreira como não gostava muito do que o Carlos Tomás escrevia, porque o Carlos “dava-lhe na cabeça” (à falta de melhor expressão) e falava das péssimas condições dos postos da GNR.
Foi por isso decidido retirar o Jornal O Crime do resumo que a GNR faz diariamente.
Esta situação aconteceu no ano passado.

 

É preciso, portanto, conhecer a história.

 

24108_105360712819772_4788287_n

César Nogueira

 

Mas se esta é outra mera coincidência… se calhar vou-vos contar uma história que aconteceu comigo.
Publiquei há mais de um mês um artigo onde a SSGNR emprestar dinheiro aos militares para fazer face aos imprevistos de doença. Depois da publicação no OCS Tugaleaks, coloquei no meu Facebook pessoal, para divulgação, a seguinte mensagem: armados em parvos ou armados em quê?
Horas depois, liga-me um Major das relações públicas, ofendidíssimo com o que escrevi. “Que tipo de jornalismo é o seu”, perguntava ele. Não vacilei. Concluímos o telefonema, que foi curto, com uma “promessa” da parte dele de apresentar uma queixa na ERC, mas não sobre o artigo no Tugaleaks… era uma queixa sobre o que escrevi no meu mural pessoal do Facebook. Não sei se chegou a apresentar, mas vou ver agora que me lembrei da coisa…

 

É preciso, portanto, conhecer a história.

 

Nunca conheci César Nogueira. Mas digo já que ele é culpado. É culpado de exercer o seu livre pensamento, é culpado de liderar um movimento associativo e de defender estas forças militarizadas.
É absolutamente culpado de ter dito, como responsável associativo e nunca como militar, que a GNR estava a eliminar patrulhas para poupar gasóleo e de criticar, também como responsável associativo, uma proposta relevante ao seu trabalho da APG-GNR. Os dois últimos links são os artigos que levaram à sua suspensão.

Foi suspenso por 25 dias. Sem ordenado.

 

Nem sempre morri de amores pela polícia. Mas se há coisa que não pactuo é com ataques à liberdade de expressão e ao livre pensamento.

Agora que se conhece a história, ou o meu caso que a relembrei publicamente, consigo perfeitamente entender porque é que César Nogueira é culpado.

Porque é incómodo e inconveniente.

 

Rui